21 de nov. de 2014

Análise: TS808 vs TS9 vs TS10

Você sabia que é possível transformar um TS9 em um TS808 com 20 centavos e um ferro de solda em alguns minutos? Você sabia que eles não são true bypass? Qual a diferença afinal?
Eu vi discussões o bastante para notar que a desinformação paira sobre muitos assuntos sobre equipamentos que acabaram se consagrando ao ponto de serem mistificados. Se eu te perguntasse qual a diferença entre o TS808 e TS9 você provavelmente diria "o TS9 distorce menos e tem mais volume" porque é algo lido em todo fórum.
Esse fenômeno chamado "replicar informação" e pode ser saudável caso a informação esteja correta, mas eu receio que esse não seja o caso, e eu gostaria de conduzi-los em uma jornada rumo a compreensão com base em fatos e um pouco de análise técnica, como nos artigos "Tecnologia do Wah Wah", "Tecnologia do Fuzz" e alguns outros.



Gêmeos não tão identicos (TS808):
Os TS808 foram os primeiros overdrives dessa "família", e mesmo entre eles há diferenças. Os feitos em 1979 são mais baixos, tem a inscrição "balance" ao invés de "level" no controle de volume e a tampa metálica inferior deve ser removida para trocar a bateria (como os MXR), enquanto os outros tem uma tampinha plástica para facilitar a troca. Além de serem mais baixos o circuito deles é ligeiramente diferente, usando dois opamps "1458", um circuito integrado anterior ao "4558" usado posteriormente nos TS808 mais altos.
Em 2014 a Ibanez comemorou o aniversário de 35 anos do TS808 e lançou uma "reissue" feita com a estética dos de 79 porém usando os "JRC4558D".
Divergências existem até entre um mesmo tipo de componente, os "4558" eram fabricados pela "Texas Instruments" da Malásia como "RC4558C" enquanto no Japão eram inscritos "JRC4558P", e são o mesmo circuito integrado e ambos foram usados no TS808.

O irmão injustiçado (TS9):
De 82 a 85 um circuito praticamente idêntico ao TS808 (sério, só mudaram 2 resistores) foi colocado em uma caixa diferente, com um acionamento bem maior do que o botãozinho prateado do irmão mais velho. Aparentemente as mudanças no estágio de saída deixaram esse pedal com mais volume e brilho, mas faremos uma análise disso posteriormente comparando o esquema elétrico e considerando as implicações práticas.

Alguns anos mais tarde a Ibanez resolveu colocar opamps aleatórios nos TS9, ao invés dos JRC4558 usados nos fabricados até então e nos TS808 e provavelmente foi isso que tornou o som deles muito mais discrepante.




Os mais novos (TS9DX, TS10, STL e ST9):

A transição aqui foi mais dura, mais componentes foram modificados do TS9 pro TS10 e outros dois modelos ainda mais inovadores surgiram.
O TS9DX ganhou um controle adicional que muda internamente os diodos de clipping (que muda o caráter da distorção e o volume de saída) e o capacitor do controle de tone em 4 modos diferentes: TS9 (o classico), TS9+ (tonalidade mais balanceada e mais volume, ligeiramente menos distorção), HOT (ainda menos distorção, ainda mais volume e graves), TURBO (sem diodos, a distorção vem do opamp, ainda mais volume e graves).
O ST9 Super Screamer é raríssimo, aparentemente foi vendido apenas na europa. A Ibanez então adicionou o STL à linha, que seria um similar ao ST9. Ambos são basicamente o TS9 com o tone substituído pelos controles "bite" e "bright" onde o segundo ajustava a tonalidade e o primeiro dava um boost fixo nos médios de 8dB e o ajuste era a frequência central, indo de 200Hz a 2Khz. A maior diferença entre eles é que no STL o boost de médios ocorre depois da distorção e no ST9 ele ocorre antes.

Análise do TS9 contra o TS808:

Supondo que você prestou atenção a todas as variações entre pedais do mesmo modelo de épocas diferentes, e que ambos estejam usando o RC4558, somente dois resistores no buffer de saída mudam os valores. Caso o TS9 seja um modelo posterior que foi feito com outro opamp, para converte-lo em TS808 este também precisaria ser trocado pelo "RC4558".
Os valores apresentados ao lado são para o TS808, enquanto no TS9 e TS10 o RB foi trocado por um resistor de 470 ohm e RC por um de 100K. Para os leigos, isso é um "buffer" na saída do pedal, visando baixar a impedância e manter a integridade do sinal até o amplificador e não foi projetado para alterar em nada o timbre, e de fato a única coisa que esses resistores alterariam seria a impedância.
Porque isso afeta o som? Comparando o "divisor resistivo" formado pelos pares "100 ohm/10K" e "470 ohm/100K" temos um ganho de 0.9901 contra 0.9953, uma diferença imperceptível. O que acontece é que a impedância de saída muda a forma como o próximo estágio (o amplificador ou o próximo pedal da cadeia) casa as impedâncias. O que causa a mudança é a interação entre o pedal e outro equipamento no seu set.
Alguns fabricantes tem instalado chaves TS808/TS9 nos clones e eu estou certo de que isso é feito mudando RB, C9 e RC.

Diferenças adicionais:
TS808 - 700 a 800 reais
TS9 - 450 a 500 reais
A caixinha, é claro.
(Tire suas conclusões)

Estimando a "idade" do seu pedal:
A inscrição no eletrolítico na placa desse TS9 é "A9625", isso significa que ele foi fabricado na semana 25 do ano de 1996, o que nos dá uma pista bem concreta sobre a "safra" da Ibanez à qual o seu pedal pertence.
Depois de deixar claro as diferenças adicionais eu achei relevante escrever sobre esse método de datar os pedais e e algumas modificações possíveis e feitas com alguma frequência.

Modificações populares:

- True Bypass: Sim, nenhum deles é true bypass, todos utilizam chaveamento por FETs, como os BOSS, os Behringer e outros. Enquanto em bypass o buffer da entrada do pedal permanece ativo, ajudando a percorrer cabos longos.
- Mais ganho: Você pode aumentar o ganho máximo do pedal a gosto, deixando a regulagem "do 0 ao 15" ou como preferir.
- Clipping: Há quem prefira o som de clipping assimétrico, o TS9DX, como relatado acima, usa uma chave seletora para trocar esse estágio, garantindo mudanças no timbre e quantidade de distorção e volume.
- "Fat Mod": Para o som "não embolar" há um filtro passa-altas calibrado em 720Hz. Diminuir a frequência de corte significa deixar mais graves passarem (e distorcerem), resultando em um som mais "gordo" como o nome sugere.
- "Blend": Um controle que divide o sinal em dois logo na entrada e posteriormente adiciona o som limpo original ao que foi distorcido no circuito, para preservar melhor a clareza e articulação mesmo com ganhos mais elevados.
- "Tone Mod": Há quem não goste do efeito característico de boost de médios causado pelo tonestack ou do range dele, então algumas modificações foram desenvolvidas aqui também, seja para atenuar o "boost de médios" ou para fazer o TONE agir com o centro de frequência mais próximo dos graves ou dos agudos.




















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