21 de nov. de 2013

Tecnologia de Captação



É impressionante que depois de tanto tempo que os captadores foram desenvolvidos tão pouco mudou nessa tecnologia, mas eu creio que algumas coisas no mundo da guitarra permanecem como eram há 40 anos atrás pela "tradição" e pelo "mojo factor" de ter o timbre dos seus ídolos da mesma forma que eles obtiveram. Hoje eu vou explicar fatores relacionados à captação.



Single Coils:
São captadores de bobina simples, apenas um enrolamento e um conjunto magnético. Se vocês se recordam de física simples do ensino médio, quando você desloca um objeto ferromagnético em um campo magnético você gera uma corrente elétrica. É assim que você capta o "som" da guitarra, pelo deslocamento das cordas acima dos "polos magnéticos" do seu captador, essas 6 superfícies brilhantes posicionadas abaixo das cordas.
Detalhes da construção alteram o "tibre", tais como o tipo e a carga magnética dos imãs, a indutância, resistência e capacitância do enrolamento (a bobina que envolve os imãs para fazer o conjunto funcionar), mas isso é assunto para outro post futuro. O fato é que o som que você ouve é criado meramente pela perturbação do campo magnético desse dispositivo. Fantástico, não?
O ponto fraco dessa invenção fantástica é o fato de no mundo de hoje estarmos cercados de eletrodomésticos, transformadores e dispositivos que geram um ruído na frequência da rede elétrica (60Hz e alguns harmônicos), o que está dentro do espectro audível e soa como um "hummm". Experimente aproximar a sua guitarra de um ventilador enquanto estiver tocando e você vai notar esse efeito de forma mais evidente. Eis que foram criados os HUMBUCKERS!

P90:
Outro captador single coil, criados pela Gibson antes dos humbuckers, com algumas características distintas dos singles da Fender: Bobinas com mais voltas e duas barras de AlNiCo ao invés de seis pinos de AlNiCo.
O resultado era saída maior e sonoridade mais "encorpada", mas retendo maior clareza do que os humbuckers e sofrendo do mesmo problema dos single-coils da Fender, são igualmente susceptíveis as interferências de 60Hz da rede elétrica e do ambiente.




Humbuckers:
Notam duas bobinas também? E um imã em barra lá embaixo? A "mágica" aqui consiste em utilizar outro princípio da física, o "Cancelamento de fase". As duas bobinas captam a vibração das cordas mas cada uma está em uma polaridade magnética desse imã, enquanto uma capta o hum, a outra capta o hum em contrafase e eles se cancelam! (Como sugere o nome hum-bucker).
Acontece que com especificações diferentes de construção o timbre também foi um pouco alterado e para os fãs do som estalado dos single coils essa tecnologia era fantástica, mas não rendia o som que eles estavam procurando e logo se criariam outras "alternativas" como os Stacked Coil, Side Coil e Phantom Coil.






Stacked Coil:

"Porque não montar as duas bobinas uma sobre a outra?", esse é outro tipo de humbucker com o formato de um single coil e na tentativa de obter um som mais próximo deles. Aqui o cancelamento ocorre de uma forma ligeiramente diferente já que as duas bobinas captam a vibração das cordas na mesma região e estão sobrepostas à distâncias diferentes das cordas.
O resultado no entanto ainda não foi do agrado dos fãs harcore do timbre de single que alegaram que ele possuia um som mais "morto" do que os captadores de bobina simples.








Side Coil:
A minha "reinvenção de single" favorita. Dois enrolamentos, um para cada 3 cordas e polaridades magnéticas invertidas para os dois lados, timbre autêntico de single e cancelamento de ruídos de humbucker, brilhante não?
Notem que eu não disse que é perfeito, porque parando para pensar, bends nas cordas 3 e 4 na direção do enrolamento oposto colocariam a corda sobre a "terra de ninguém" onde a captação pode não ocorrer da maneira prevista e possivelmente gerar cancelamentos, lembrando que na ponte o deslocamento da corda nos bends é bem menos significante do que no braço esse efeito só seria relevante lá. Não disse que era perfeito, mas é a minha "releitura de single" favorita. Vale lembrar que os contrabaixos Fender Precision já utilizavam essa idéia usando um captador para cada par de cordas montados um à frente do outro. Curioso, certo? No Brasil temos o Edu da Fullertone Pickups que é pioneiro nesse tipo de construção e quem me explicou mais a fundo o funcionamento desses pickups, o meu já está encomendado!

Phantom (Dummy) Coil:
 Quão brilhante seria remover os imãs e polos de um captador e utilizar só a bobina dele para captar ruido e "injeta-lo" em contrafase sobre o sinal original para gerar cancelamento? Todos os designs até agora usavam uma bobina em contrafase captando sinal e ruido e isso modificava o timbre mas essa idéia permite usar o "captador single dos sonhos" e só anular o ruido dele sem prejudicar o timbre (na teoria).
Nada é perfeito, certo? O novo enrolamento interfere na capacitância e indutância do original, apesar de não gerar nenhum tipo de sinal (além de ruido) essa bobina altera as características da primeira e geralmente acaba atenuando um pouco dos agudos.

ST A.D.C. :
 Sharp Trickster Active Dummy Coil. Sim, eu estou trabalhando em um projeto baseado nas phantom coils onde a bobina extra fica isolada da bobina original, um sistema ativo de cancelamento de ruído otimizado sem realmente interferir no timbre ou ceifar os preciosos agudos. Tecnologia nova para obter um timbre antigo porém livre de ruídos! Esse é um projeto em desenvolvimento para ser um item de fábrica dos modelos vintage das guitarras Zatti Custom e eu trarei mais informações em breve.

Lace Alumitone:

 A primeira real inovação em décadas, isso (acreditem ou não) é um humbucker feito com uma nova tecnologia onde a única semelhança com pickups feitos até então é o enrolamento de cobre. Os elétrons fluem sobre a armação de alumínio de maneira muito mais eficiente, gerando uma resposta de frequências muito mais ampla no espectro e saída mais alta do que pickups tradicionais. A outra parte age como uma bobina de uma única espira de fio, depois há algumas lâminas e um "secundário" (sim, como um transformador) gerando um sinal de áudio com aproximadamente 20 vezes menos fio enrolado nessa bobina.
As vantagens são inúmeras, ele fica menos sensível à interferências, menos suscetível a feedback, maior saída com menor ruído e maior espectro de frequências de captação. Brilhante, não?

3Dxy Pickup:
Esse projeto ainda nem tem muita divulgação mas pode ser encontrado aqui. A ideia é que captadores tradicionais capturam a vibração da corda apenas no plano horizontal, esse modelo possibilita a leitura da vibração de maneira multidimensional, cada corda é lida duas vezes por sensores hall, outro dispositivo que converte variações de campo eletromagnético em corrente elétrica.
Há a possibilidade de se extrair um sinal "stereo" onde o som produzido em um eixo fica no canal direito e o outro no direito. Como os sinais são complementares também podem ser misturados em um único sinal mono que ainda sim (segundo o autor) é mais preciso do que o tradicional modelo com enrolamentos magnéticos, e faz sentido!


Captadores piezoelétricos:

 Nem todos os captadores funcionam pelo princípio explicado no começo do tópico, captadores "acústicos" lêem as vibrações mecânicas das cordas ao invés da perturbação no campo magnético sobre o captador.
Existem vários formatos: captadores de rastilho de violão (exemplo ao lado), cápsulas piezoelétricas e recentemente em "saddles", aquelas peças pela qual as cordas passam na ponte, onde se regula a altura.
Essas pontes começaram a ser usadas em contrabaixos mas logo surgiram alguns guitarristas interessados (como o Sr. Petrucci) um controle no instrumento faz a dosagem entre sinal elétrico e sinal acústico, eu mesmo comprei uma Tune-O-Matic com esse sistema para a minha próxima guitarra (falo mais dela em outro post) depois de ouvir samples excelentes no youtube. Deixo um sample aqui para que vocês tirem suas próprias conclusões a respeito.






Captadores ópticos:
Sim, eles existem, sobre a patente de uma empresa chamada "LightWave". Aqui a idéia é emitir um feixe de infravermelho sobre a corda e recebe-lo em um sensor, usar as perturbações causadas pela corda no feixe para gerar sinal elétrico. É um princípio parecido com o distúrbio no campo magnético em captadores convencionais, mas usando luminosidade em uma faixa de frequência invisível ao olho humano, e por isso funciona em cordas de nylon como os piezoelétricos. Vou deixar um vídeo demonstrativo abaixo.


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