O nascimento:
No fim dos anos 50 alguns guitarristas de country já utilizavam o controle de tonalidade da guitarra com a intenção de causar um efeito parecido mas foi só por volta de 66 que o wah como conhecemos hoje nasceu, pelas mãos de Mr. Brad Plunkett (engenheiro da Vox) que fazia experimentos com um booster de médios que funcionava com uma chave de 3 posições e tentava substituir a peça por um potenciômetro mais barato e outro engenheiro da empresa, Mr. Les Kushner, sugeriu um design baseado em um oscilador e com o pedal na bancada plugado a experiência foi descrita como "De repente todos estavam correndo para a sala para descobrir o que estava produzindo aquele som". Depois de considerar usar uma alavanca eles optaram por instalar o circuito dentro de um pedal de volume.
Clyde McCoy (nome familiar?), um trompetista, desejava um efeito que pudesse simular o timbre de um trompete com uma surdina para um órgão elétrico e a Vox rapidamente lançou os primeiros pedais de wah disponíveis no mercado, os Clyde McCoy Wahs e já no fim dos anos 60 já haviam em torno de 40 ou 50 fabricantes de wah-wahs e alguns deles faziam mudanças significativas como "adicionar um fuzz no pacote" e outros até mesmo criaram designs capazes de sons como sirenes e outras bizarrices.
O funcionamento:
O Wah é basicamente um filtro de médios que desloca o centro de frequência para a região mais grave ou mais aguda, conforme você muda a posição do pedal. Muito difícil até aqui? O gráfico ao lado representa a resposta do Vox V847 original, note o pico de frequência se movendo junto com o pedal (a linha vermelha seria com o pedal parado na região mais grave e a linha azul seria no fim do curso do wah, totalmente para frente)
Convido-os a contar comigo os componentes no esquema elétrico ao lado e descobrir um dos efeitos mais populares de todos os tempos nasceu magrinho, com 5 capacitores, 10 resistores, 1 indutor, 1 potenciômetro e 2 transístores... Fantástico, certo? Design minimalista e funcional com pequenos custos (discutiremos mais tarde) pela baixa contagem de componentes.
A questão é que variando alguns desses componentes conseguiremos um som completamente diferente, esse é o design básico para a maior parte dos wah-wahs até o dia de hoje! Porque apesar de outras topologias terem sido experimentadas em laboratório, é esse o timbre que queremos ouvir, mesmo que com um pouco mais de graves, mais volume, com menos perda, o design básico parte quase sempre daqui.
Modificações e Avanços:
Alguns wahs saem de fábrica com várias melhoras no design antigo, mas ainda sim é impressionante o número de guitarristas atrás dos velhos Crybaby e V847, mesmo que eles vão parar na bancada de pessoas como Geoffrey Teese, uma lenda dos wahs e Robert Keeley, o sujeito que modifica pedais de gente como Steve Vai e Joe Satrinani, constrói pedalboards para o David Gilmour e outras coisas que dariam um artigo inteiro então pararemos por aqui para listar as modificações possíveis e as melhoras relevantes:
- True Bypass: Por uma questão de abatimento de custo os wahs saiam de fábrica com uma chave SPDT (apenas um polo) então enquanto desligados eles não estavam completamente fora do circuito e ocasionavam uma perda de agudos, degradando o sinal. Um must-have na minha opinião.
- Ganho/Volume: Pedais vintage tendem a distorcer um pouco com guitarras de captação mais forte e por outro lado há quem goste de ter um pouco mais de volume no wah quando ele está ativado, como ele está antes da distorção isso gera mais ganho na hora do solo, dá para fazer as duas coisas, ter mais volume sem distorcer.
- "Q factor":
Vou apelar para uma imagem para ser mais claro ao leitor. "Q" vem de "Quality", e em teoria esse parâmetro mediria a qualidade de um filtro e influi diretamente na ressonância. Notem que quanto maior a "qualidade" do filtro menos ele influi nas frequências próximas ao "centro de frequência", pelo gráfico podemos ver que com o Q=10 o pico é muito maior e a curva é mais "estreita" enquanto com Q=1 o filtro abrange muitas frequências próximas do centro enquanto é mais "contido" com os 200Hz (o centro).
O que isso muda no wah? Q factor mais alto resulta em um wah mais agressivo e mais evidente (até um limite onde seja alto demais para detectarmos o efeito com a audição ao invés de um osciloscópio) e um Q factor mais baixo significa um wah mais "contido e comportado" (até um limite onde o filtro praticamente não faça diferença audível de novo).
- Range:
O centro de frequência anteriormente citado, se você toca em afinações mais baixas como A, B ou se é um wah para contrabaixo você pode desejar que a região de atuação do wah seja na faixa mais grave das frequências, se você deseja um efeito mais evidente enquanto estiver fritando o fim do braço da guitarra pode desejar que o wah atue na região mais aguda. Pense assim: Centro mais grave = Jerry Cantrell (Alice in Chains) e mais agudo = Zakk Wylde.
- Mais/Menos graves:
Sem mudar a região onde o wah atua é possível adicionar ou remover graves para deixar o som mais consistente ou mais dramático alterando pouca coisa no circuito original.
- "Voicing":
Wahs que imitam um talk-box (aquele efeito do "Livin' on a Prayer" do Bon Jovi), que imitam a voz humana e demais bizarrices podem ser obtidas com novos designs desse filtro e ainda ser um "wah pedal", ouça, ModFactor V3 da Eventide ou o Talking Pedal da Electro Harmonix ou o preset "Ya" da Digitech RP90 para alguns exemplos.
- Controle de efeito:
Com o tempo o potenciometro que controla o efeito vai se degradando e presenteia o seu timbre com o autêntico som de pot raspando, muito conhecido dos guitarristas até no controle de volume da guitarra. Pensando nisso alguns fabricantes deixaram o pot fora do circuito, ele controla apenas um dispositivo que toma o seu lugar e assim ele não permite que esse ruído apareça no sinal. Outros fabricantes foram além fazendo wahs controlados por MIDI, controlados por sensores de movimento, por acelerômetros e outros fatores.
- Indutores:
Apesar de alguns wahs posteriores terem saído com um design diferente que não utiliza indutores eles são frequentemente taxados como wahs "mais fracos", os indutores são o coração do circuito de todos os outros. Fatores como a indutância, impedância, capacitância e mesmo a maneira de construção dessas peças muda fatalmente a sonoridade do wah. Para não ir muito fundo nos parâmetros técnicos, os indutores mais procurados para modificações são os "Fasel Red", "Fasel Yellow" e "HALO" e custam em torno de 100 reais a peça no Brasil, outros modelos mais raros podem sair por bem mais que isso.
ST Custom Wah:
Procurando o timbre ideal de wah eu resolvi criar o meu próprio, apesar de ainda estar em fase de testes vale salientar que é um wah feito depois de um estudo minucioso e com a meta de obter uma gama de timbres dentro do clássico mas sem abrir mão dos adventos da modernidade, um booster e controle por sensor de distância (sem pedal físico), scratchless (sem ruido de pot aqui), true bypass (sem perdas) e algumas coisas que tratarei quando terminar os testes e criar um artigo para ele.
Juro que esse é o último tópico desse artigo demasiado extenso:
Espero honestamente que isso ajude quem tem dúvidas a respeito do funcionamento, entretenha os curiosos pela história e funcionamento das coisas e anime os músicos a procurarem alternativas ao senso comum do que é um bom wah. Muitas vezes os guitarristas parecem fechar os olhos para o que há de novo e melhorado para pagar um absurdo de um equipamento que tem um nome e uma marca menos discutível do que a qualidade do seu produto, espero que pelo menos dêem uma conferida por ai antes de comprar o seu crybaby, certo?
Permitam-me sugerir uma checada nos pedais do Geoffrey Teese que agora tem uma linha própria e em obras de arte como o "T-Rex Gull Wah" que teve o design baseado no Mercedes Benz 300SL e usa um sensor magnético para detectar o pedal substituindo o pot, o ZVex Seek-Wah que usa um sequenciador, o ZVex Wah Probe que usa um sensor de distância, o meu apelo é: "Conheçam coisas novas!"
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