27 de nov. de 2013

Tecnologia dos sets modulares

Senhoras e senhores, com vocês, a rig do "The Edge" (U2). Talvez o cara não seja a sua referência de técnica, estilo ou timbre, mas você tem que admitir que ele tem muitos brinquedos e é um cara organizado.
É raro encontrar um guitarrista profissional (dos grandes) que não esteja usando um rack com os seus equipamentos, as vantagens são inúmeras! É mais fácil e seguro transportar, é mais organizado, mais prático de ser usado e você pode renovar o seu estoque de timbres quando quiser trocando uma parte do set ao invés de arrumar outro amplificador e começar a timbrar do zero, mas você sabe por onde começar quando for montar um set assim? Sabe que papel desempenha cada parte ali e como elas funcionam juntas?




Vou começar modularizando um amplificador do tipo "combo", dividindo as etapas que o sinal passa desde o jack de entrada até o autofalante para depois explicar como isso funciona com equipamentos separados e cabeamentos de conexão externa:



 Com vocês, Mesa Boogie Mark V 112!
- 3 canais com EQ independente
- 3 modos de ganho por canal
- EQ gráfico de 5 bandas
- 90 Watts RMS de potência
- 1 autofalante de 12"

Muitas funções em uma só caixinha, certo? Mas o que acontece lá dentro? Por onde o sinal da guitarra passa e o que acontece em cada estágio do processo?



Preamplificador ou Preamp (para os intimos):

Aqui que acontece aprimeira etapa da timbragem (considerando a guitarra plugada direto no amp), o sinal vai ser distorcido e equalizado da maneira que você achar melhor,  note quantas possibilidades nesse painel. Existem 3 desses dentro desse amplificador, então podemos usar 3 regulagens muito específicas, 3 canais de preamplificação, na cadeia de sinal os 3 ficariam em paralelo e só 1 seria chaveado por vez, os outros 2 ficam em "bypass".
 

 EQ adicional:

Veremos adiante que existem diversos tipos de equalizadores, esse é um do tipo gráfico que atua em 5 bandas de frequência. Note que esse "módulo" vem depois do preamp e consequentemente depois das distorções. Dar ênfase a alguma frequência aqui vai torna-la mais evidente mas não vai faze-la distorcer mais, o que aconteceria com um booster de médios antes do pré por exemplo, ligado entre a guitarra e o amp.

Loop de efeito:

Essa é a etapa responsável por enviar o sinal tratado para o exterior do amp, para o guitarrista colocar seus reverbs, delays e modulações antes de voltar para a etapa de potência.
Loops existem em amps porque esses efeitos não ficariam bem ligados entre a guitarra e o amp pelo simples fato do seu som processado cuidadosamente ser distorcido e equalizado por ele de uma maneira nem sempre agradável.



Reverb de mola:

Originalmente esse amp não vem com reverb mas como eu sou um homem muito influente eu liguei pros engenheiros da Mesa e mandei fazer um sob medida... Brincadeira!
Supondo que houvesse um desses, esse seria o próximo estágio, nesse módulo o som distorcido e equalizado ganha ambiência, seria a última etapa antes do som poder ser enviado pra etapa de potência


Etapa de potência:

Notem que até agora não falamos em potência, apenas em timbre. Se você manter tudo como estava e trocar o estágio de potência vai ter um amplificador com (praticamente) o mesmo timbre mas com mais ou menos watts de saída. O trabalho dessa etapa é somente amplificar o sinal que recebe o bastante para mover o autofalante.
Em teoria um bom power amp (etapa de potência) é linear e não modifica o conteúdo harmônico do sinal que chegou até ele, apenas excita a bobina do autofalante, mas na prática os designs de amplificadores de guitarra não são os mais lineares e principalmente nos valvulados essa etapa acaba por deixar suas contribuções para o timbre também.


Autofalante:

Junto à etapa de potência determina a potência do combo mas também exerce papel predominante sobre o timbre final, são as partes menos lineares na resposta, cortam agudos a partir de uma certa frequência, dão ênfase em outra região e cortam os graves a partir de outro limite. O ponto exato onde isso acontece depende do modelo mas todos fazem isso. Já experimentou ligar um amplificador ou pedal de distorção em linha? Ele parece "ardido" porque não há esse "tratamento" dado pelos stacks, te obrigando a fazer o uso de um equipamento chamado Cabinet Simulator (ou CabSim) que como o nome sugere, simula a resposta de um auto-falante ou caixa. Esse assunto será tratado com mais detalhes em um próximo artigo escrito mais adiante.



Fazendo o caminho inverso:

Depois de desmontar um sistema de amplificação para estudar as partes individuais podemos começar o caminho inverso, montar um sistema que soe agradável aos nossos ouvidos peça por peça e organiza-lo em uma rack. Essa ao lado é bem simples, qualquer guitarrista mais experiente vai olhar para ela e compreender o que cada peça faz.
Vale lembrar que toda rack tem que ter pelo menos um preamp e um power amp pra enviar o sinal para a caixa de som, mas você sempre pode acrescentar novos módulos desde que consiga controla-los com outras peças apropriadas para esse trabalho.

Análise da rack acima:

- Decimator ProRackG: Redução de ruídos para manter a rack silenciosa com o drive monstruoso da próxima peça ali, o preamp. Um "adicional" muito bem vindo para sistemas trabalhando em hi-gain
- ENGL E570: Preamp valvulado de 4 canais, o único aqui, peça necessária!
- Digitech Guitar Valve FX: Preamp + processador de efeitos. Tem compressão, distorção, gate, EQ, reverb, delay, modulação e efeitos diversos. Depois de um preamp excelente como a peça anterior do set, provavelmente ele se limita a usar as outras funções.
- TC Electronic G-Major: Processador de efeitos. Esse é "famoso", foi usado durante muito tempo pelo Steve Vai e outros, hoje ainda usado pelo Kirk Hammet e Brian May. Apesar de terem surgido com o tempo outros processadores mais poderosos, esse ainda é uma excelente escolha para um set.

Pensando modularmente, adicionando possibilidades:

O Hi-Gain do ENGL é excelente aos seus ouvidos mas você sente falta de um crunch "a là Marshall", é só adicionar um Marshall JMP1 no seu set! O processador é bacana pra tirar sons modernos mas a simulação de Phase 90 não te convence e você ta a fim de tocar um Van Halen? Adicione um também! Use um "looper" e aproveita colocar um Univibe ali na gaveta também. Aquele pedal EQ 7 bandas não te ajuda muito na hora de timbrar a guitarra? Aproveita o looper, compra um EQ de 30 bandas stereo, coloca na rack e divirta-se com 2 canais de equalização acionáveis separadamente!
Percebe a facilidade de adicionar novos timbres sem perder os que você já tinha em um set modular? O cara da foto acima deve ter tentado adicionar timbres demais...

Peças de controle:
Não estão aqui para influir no timbre diretamente mas são vitais para o bom uso de tudo o que você já tem montado na rack. É o caso dos loopers, mixers, switchers, midi controllers e derivados, vamos tratar dos principais:

- Loopers: Tem um artigo completo sobre eles aqui mas resumidamente eles controlam por quais peças do seu rack o sinal passa, assim é possível controlar pedais, racks de equalizadores e outras peças sem bypass.

- Mixers: Sim, pode ser uma mesa de som ou um rack com o mesmo princípio. Alguns guitarristas gostam de microfonar o seu stack com um microfone próprio, tratar na mesa, mixar com o som de um cabsim ou outra caixa e mandar apenas um sinal para o PA. Outros guitarristas usam mixers para passar o sinal da guitarra por dois processadores paralelos e acertar a dosagem de cada um antes do sinal ir para o próximo equipamento na cadeia.

- Switchers: Há quem use cabeçotes ou outros equipamentos que tem entrada para footswitch e não tem implementação MIDI para controle dos mesmos. Switchers simulam um footswitch ligado/desligado ou sendo pressionado momentaneamente e fazem a interface com a sua controladora MIDI. É um grande auxiliar no processo de usar peças analógicas antigas (como os amps) com controle digital.

- MIDI Controllers: A controladora que coloca todos os timbres disponiveis na sua rack aos seus pés, literalmente. Uma pisada aqui e o preamp muda do canal limpo pro sujo, o noise gate liga, o processador passa do preset 2 pro 5, o volume aumenta pro solo e o que mais você tiver vontade de fazer. Esse equipamento é a única coisa que fica na frente do palco e se programada da maneira correta pode fazer qualquer coisa na sua rack.


Espero que esse artigo tenha ajudado os curiosos e os guitarristas que pretendem migrar para um sistema rackmounted, o artigo está grande porque o assunto é infindável mas eu espero que tenha ficado fácil de compreender e não muito cansativo.

2 comentários:

  1. Só há um porém: distorcer o power pode ser mais legal que o pré. Ganho no 0 e volume no 10.É estranho mas ela soa muito melhor que a do pré. Há também o quesito de Z de saída e bias (que altera pra caramba o timbre)

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    1. Como eu disse, em sistemas LINEARES o power deveria manter o timbre que vem do pré, em sistemas de guitarra valvulados ele acaba por contribuir para o timbre. Depende desses fatores por você citados, o trafo de saída e outras coisas.

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